O município de Venda Nova do Imigrante (ES), parceiro da Comunidade Educativa CEDAC entre 2010 e 2015, apresentou no último dia 26 de outubro uma série de documentos norteadores da proposta pedagógica da rede pública municipal em evento com todos os funcionários da Educação, representantes de familiares de alunos, entre outros convidados.

A equipe da Secretaria de Educação expôs toda a documentação que organiza o trabalho da secretaria e das escolas, tornando-a acessível para toda a comunidade e para a próxima gestão municipal. É um belo exemplo não só de cuidado com a coisa pública como de compromisso com a qualidade da educação, para além de um ou outro governo.

A maioria dos documentos orientadores é comum à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental – como, por exemplo, os que dispõem sobre as transições mais marcantes da escolaridade (da creche para a pré-escola, da pré-escola para o 1º ano, do 5º para o 6º ano do EF); sobre a formação continuada, os conselhos de classe, as reuniões com famílias e a organização de acervos das escolas. Mas há também os específicos da Educação Infantil ou do Fundamental, como a saúde para a creche; a organização dos portfólios das crianças. A elaboração das orientações foi feita com a participação ativa dos professores, por meio da constituição de comissões de estudo para cada tema.

“Não dava pra sair de uma gestão sem deixar essa documentação consolidada”, afirma Nilcilene Aparecida Ebane Brambilla, uma das coordenadoras pedagógicas da rede para Educação Infantil, que está na Secretaria desde 2013 e que se prepara, como o restante da equipe, para uma mudança no quadro gestor por conta do resultado das eleições municipais, ganhas pela oposição ao atual governo.

Os documentos orientaram a produção dos projetos político-pedagógicos de cada escola, que também foram expostos durante o evento. “Como a gente constrói um PPP sem ter a prática da rede sistematizada?”

Parceria com a CE CEDAC

A Comunidade Educativa CEDAC acompanhou e apoiou a equipe de educadores de Venda Nova, no âmbito do Projeto Escola: Espaço de acolhimento, desenvolvimento e aprendizagem, fruto de uma parceria com a Prefeitura e o Instituto Jutta Batista da Silva.

O projeto Escola teve uma fase de atuação da equipe da CE CEDAC com ações presenciais bastante intensas de 2010 até 2013, em 2014 nosso acompanhamento se deu a distância – visando a uma maior autonomia do município. Em 2015 fizemos uma formação a distância no âmbito do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) – biblioteca do professor, junto com a Fundação SM, e hoje mantemos com a equipe de Venda Nova uma relação de troca de saberes e aprendizados.

Nilcilene, que participou da formação do Projeto Escola como professora, depois como diretora e a partir de 2013 como técnica da Secretaria, disse que percebeu “o alinhavo” que a formação fazia entre os diferentes papeis e responsabilidades.

“Comecei a ver toda a estrutura do ponto de vista de cada ator, da responsabilidade de cada um, a necessidade de refletir de lugares diferentes. Cada sujeito tinha uma responsabilidade e a formação trazia objetivos de aprendizagem diferenciados para cada ator, mas todos com o mesmo compromisso – de olho no aluno, no seu aprendizado. Quando cheguei à secretaria, tive maior clareza disso.”
Para Nilcilene, a principal contribuição do projeto foi o processo reflexivo que se instaurou na rede. “Todo mundo olha para a sua prática de uma forma diferente do que olhava. Quando você não faz isso, parece que está tudo bem e você não faz muita coisa para mudar. A Comunidade Educativa CEDAC traz um outro olhar para os dados, faz a gente se dar conta de que é agente da mudança, e é isso que faz com que a gente caminhe com as próprias pernas depois que a CE CEDAC sai de cena. Vocês deixaram alguns caminhos, depois pudemos construir outros e percorrer outros mais autonomamente.”

A ex-secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda (da Fundação SM e Conselheira da CE CEDAC), participou do evento de apresentação da proposta pedagógica como palestrante – falou sobre a importância de documentar a prática pedagógica para o sucesso do ensino e da aprendizagem.

Em entrevista à CE CEDAC, Pilar disse que lhe chamaram a atenção o envolvimento dos professores com a proposta pedagógica do município e a liderança da equipe da secretaria. “Projetos em geral duram pouco porque não chegam à escola. O que garante [a continuidade] são os professores, muito presentes, muito atuantes. Nenhum projeto se sustenta se não tem legitimidade.”

Em relação ao corpo da Secretaria, Pilar observou que “é uma equipe muito sólida, convicta e engajada, com uma base teórica importante e que sabe aonde quer chegar”. Destacou ainda como diferencial o fato de a gestão atual ter investido no registro e na reflexão sobre a prática.

Nilcilene e a equipe de Venda Nova apostam na documentação como um caminho para a continuidade das práticas na próxima gestão. “Um dos nossos objetivos é que vá se institucionalizando, que seja referência para qualquer professor que chegue à rede.” Mas a técnica também acredita que a continuidade das práticas se dará em função da formação dos educadores que permanecem nas escolas, independentemente da troca de gestão na Secretaria. “Uma coisa não caminha sem a outra: a formação em serviço e a documentação para respaldar essa prática.”

Para acessar os documentos orientadores da rede, acesse o link: http://vendanova.es.gov.br/website/site/Secretarias.aspx?id=117